quarta-feira, maio 14, 2014

O que se vê do buraco da própria tumba?

Imaginemos que Portugal estava prestes a ser enterrado. De morto. Imaginemos também que quem o tinha morto (tentado!) se encarregou de o enterrar. 10 milhões (+5M lá fora) todos enterrados. Num último esforço eis que o "morto" abre os olhos. O que vê?
Aqueles que o tentam enterrar... e sorriem, se sorriem.



Fotografias tiradas daqui.

segunda-feira, abril 21, 2014

Santos & salvadores

O Dr. Assis afirma numa entrevista ao Público que as eleições europeias são uma boa "possibilidade de manifestarem não apenas a sua desconfiança, a sua oposição, a esta maioria, mas também de contribuírem para a afirmação de uma alternativa política em Portugal". Assim, além de vender a ideia de que com uma maioria de esquerda no Parlamento Europeu "vamos ter grandes mudanças políticas na Europa", não deixa de tentar cativar o votinho contra o Governo. Ambas as coisas são desonestas e só não apelido o Dr. Assis de aldrabão porque a última vez que andou por Bruxelas passou lá tão pouco tempo que deve perceber do assunto tanto como a Lili Caneças.

Em primeiro lugar, é profundamente irresponsável, e contribui claramente para o déficit democrático na UE, fazer de eleições - que decidem o rumo político da UE por cinco anos - um, plebiscito aos Governos nacionais. É democraticamente imaturo e um bom exemplo de confundir alhos com bogalhos, pior, de promover a confusão no eleitorado. Aliás, quando dos referendos que deitaram abaixo o projecto de constituição europeia era precisamente essa a ideia que se criticava.

Em segundo lugar, já que Hollande, para os socialistas, o anterior salvador da Europa, anda a fazer os inevitáveis cortes na despesa pública e a apregoar o contrário do que os senhores do PS apregoam, viram-se agora os socialistas para outros salvadores. Quem? A futura Comissão Europeia saída da tal "maioria de esquerda", ou seja, para aqueles que nos emprestaram o dinheiro que a dita austeridade anda a tentar pagar de volta. Está bom de ver que se for Martin Schulz o sucessor de Barroso, a Comissão vai deixar de querer orçamentos nacionais em ordem e equilibrados. É que é isso mesmo, então, ainda por cima, sendo Schulz alemão e de um partido que está coligado no Governo nacional - adivinhem com quem? -  com a Chanceler Merckel, pois claro.

Mas a aldrabice do Dr. Assis não se fica por aqui. Às acusações de despesismo dos anteriores governos PS apelida-as de demogógicas como se, imagine-se lá, não tivessem sido precisamente esses governos a levar Portugal à bancarrota por haver um excesso de despesa pública face à receita. Demagógico é quem assume os seus erros ou quem transforma, pela retórica, erros em supostas virtudes? Está bem abelha, nesta já só cai quem quer.

Para finalizar, o Dr. Assis assume ainda, com satisfação, que o Sr. sócrates vai participar na sua campanha e anuncia a sua vontade para que, após as próximas eleições legislativas, haja um novo ciclo político que passe obrigatoriamente pelo PS. Quanto a isto nada de novo, é o PS do costume e de sempre. Agora, espremido, esprimidinho, o que sobra então do discurso do Dr. Assis? O PS merece ganhar porque nunca fez nada de mal nem tem qualquer tipo de responsabilidade no facto de ter governado um país até à bancarrota, a austeridade (termo que significa a incapacidade para não se gastar mais do que aquilo que se tem) é uma loucura da direita "radical" - faltou acrescentar do Hollande também - e o PS, esse bando de santos milagreiros, é que deve governar Portugal porque conhece a receita exacta para a "competitividade" (viu-se). Entretanto, na campanha lá teremos sócrates a perorar contra o governo e a afirmar descaradamente o contrário de tudo aquilo que dizia em 2011. A sério, esta gente não tem vergonha na cara?

*Também publicado aqui.

segunda-feira, abril 07, 2014

Não é para todos

Ai, se fosse ao contrário. Ai, ai. Boicotes, vestes rasgadas, gritarias. Mas como é para o outro lado já não faz mal, é pela não-discriminação.

Oitocentos mil

© James Nachtwey
Eu não tenho 800 000 amigos. Pelos menos acho que não. Tenho muitos, graças a Deus, ma non tanto. Mas por cada um que morra uma catana me atravessa/á o coração. Por cada um. Por isso é para mim inconcebível o que homens, mulheres, velhos e crianças fizeram a 800 000 homens, mulheres, velhos e crianças entre os dias 6 de abril e 4 de julho de 1994, faz agora 20 anos.

Também publicado aqui.

sexta-feira, março 21, 2014

Os inimputáveis

O nível do debate público apenas reflecte a realidade do país e, infelizmente, a realidade do país é que ser-se, ou fingir-se que se é, um imbecil compensa largamente. Como é que é possível que um partido que levou um país à bancarrota, que assinou o acordo com a Troika para financiar a saída da bancarrota - viabilizando a estratégia política do actual Governo - passe a vida a reclamar contra a austeridade, ou seja, contra o reequilibrar das contas públicas que eles arruinaram, bem como contra a política que em seguida viabilizaram? A inimputabilidade pode livrar da cadeia mas não deveria livrar do internamento psiquiátrico. Já em Portugal estar completamente fora do plano do real ainda é capaz de levar ao Governo. E isso diz muito mais acerca do país do que do PS.

quinta-feira, março 20, 2014

Fórum quê?

Fonte: expresso.sapo.pt
Fórum... todos ministros das finanças desde 2004 - só faltou o Campos e Cunha (ver lista completa aqui) - ano em que termina o pântano guterrista e viemos por aí a fora, de choque em choque, até à intervenção externa final. Tudo espremidinho estou com Gaspar e Hamilton... ver mais aqui.

O regresso do emigrado

Foi curta, a reforma.

terça-feira, março 18, 2014

Saída à Portuguesa

Partida, lagarta, fugida. Depois de um período curto em soft opening o cara & coroa sai e à portuguesa.

sexta-feira, março 14, 2014

O Manifesto dos 70

O Manifesto dos 70 é grave e seria de esperar que algumas das personalidades que o assinaram tivessem mais bom senso.

Em primeiro lugar, falar de reestruturação da dívida, como os promotores fazem, mais não é do que assumir que as dívidas não são para pagar. No fundo, fazem eco daquilo que Sócrates disse há uns meses, de que as dívidas são para ser geridas e nunca pagas. Fizessem os cidadão o mesmo que estes senhores propõem que o Estado faça, e os tribunais ficariam entupidos com processos de execução e penhoras de bens. Porque, no que toca aos privados, as dívidas são mesmo para pagar, até ao último cêntimo, haja ou não dinheiro. Que o digam as famílias com a corda na garganta por causa dos seus empréstimos bancários!

Assim, e simplificando, o que estes senhores propõem é um gigantesco calote. Uma fuga às obrigações assumidas, sem apelo nem agravo, esperando que alguém, por nós, venha assumir as culpas e pagar a factura. Porém, esse “alguém” são sempre os contribuintes e a factura será sempre paga sob a forma de amarga “austeridade”.

Podem os mais incautos pensar: “mas e então? Se é possível reestruturar a dívida e não pagar parte dela isso é bom, já que libertaria o Estado do peso do serviço da dívida e permitiria aliviar a malfadada austeridade.” Erro crasso. Por vários motivos dos quais me permito elencar apenas alguns:

1. Não pagar parte da nossa dívida, mais do que penalizar os nossos credores estrangeiros que acusamos de falta de solidariedade (!) imporia pesadíssimas perdas ao já débil sistema bancário português. Provavelmente, a banca não resistiria e para evitar o risco sistémico da falência de grandes bancos, teríamos vários BPNs a nascer por aí, com os pesados custos que tal teria no Orçamento do Estado e no bolso dos contribuintes, que pagariam mais 3 ou 4 nacionalizações in extremis.

2. Põe em causa a credibilidade externa conquistada dos últimos 3 anos pelo actual governo, muito devido ao papel determinante de Vitor Gaspar, primeiro, e Maria Luís Alburquerque e João Moreira Rato depois, que nos permitiu reduzir drasticamente das taxas de juros pagas pelo dinheiro que precisamos de pedir emprestado. E não tenhamos ilusões, enquanto o Estado não diminuir drasticamente o seu caderno de encargos, temos que pedir dinheiro emprestado para pagar as nossas contas, já que os impostos não chegam. Ora, a solução que estes senhores propõem faria com que nenhum investidor internacional (ou nacional, se algum sobrevivesse) voltasse a emprestar dinheiro ao Estado Português. Ou, sendo bem intencionada, que o voltasse a fazer a taxas de juros minimamente pagáveis.

3. Falar de reestruturação cria o pânico nos mercados e cheira a Grécia, que já o fez sem que tal tenha significado alguma melhoria. Antes pelo contrário. Enquanto em Portugal discutimos uma possível “saída limpa” do Programa de Ajustamento, rumores apontam para a necessidade de um terceiro resgate para Grécia. É isso que queremos para o nosso futuro? Sermos olhados com a mesma desconfiança que a Grécia, com as gravíssimas implicações que tal teria no nosso financiamento externo e consequente funcionamento do Estado? (Convém recordar que, em Junho de 2011, sem programa de ajustamento, Portugal não teria dinheiro para pagar salários e pensões).

Mais do que apelar a uma reestruturação da dívida, os promotores do manifesto, muitos deles responsáveis pelos números actuais no nosso endividamento, deveriam preocupar-se em escrever as linhas com que no futuro deve ser escrita a nossa estratégia de financiamento: temos que ter o Estado que podemos pagar e manter a dívida dentro dos limites da sustentabilidade. Não podemos clamar por solidariedade ilimitada quando demonstramos a irresponsabilidade de um caloteiro. Não podemos acenar com crescimento e sustentabilidade quando as soluções que apresentamos são exactamente as mesmas que levaram ao nosso actual “infortúnio”.

Para terminar, num país a sério, muitos dos senhores do Manifesto estariam era a responder pela dívida que criaram ou que permitiram que se criasse ao invés de estarem confortavelmente sentados nas suas poltronas a incentivar calotes!


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O crepúsculo do socialismo

Uma forma muito simples de aferir-se o nível de desvio ideológico na comunicação social portuguesa prende-se com a forma como a comunicação social trata a questão da Venezuela e, pior ainda, a forma como os outrora maiores defensores do regime de Chavez não são confrontados, nem com o que se passa na Venezuela, nem com o seu apoio passado ao regime chavista. Entretanto, na Venezuela, já morreram vinte e oito pessoas , isto num país que agoniza com uma inflação superior a cinquenta por cento e, onde faltando produtos essenciais para higiene e alimentação, apenas pode esperar-se uma escalada rápida de violência para acrescentar mais mortos às estatísticas que já davam a Venezuela como um dos países mais perigosos do mundo.

No entanto, ainda há seis anos atrás, Mário Soares (ver vídeo aqui) entrevistava Hugo Chavez tecendo-lhe os maiores elogios, nomeadamente afirmando o humanismo e a luta pelos pobres e oprimidos que aquele configurava. Para a esquerda aqui do portugalório, Chavez sempre foi um exemplo: graças a ele se afirmava que havia uma via para o socialismo democrático que não tinha descambado em violência, opressão e miséria. Pois bem. E agora que a Venezuela se afunda na opressão, na violência e na miséria onde é que estão os socialistas? E onde estão os jornalistas a pedir contas?

Entretanto, directo de Marte, o PCP, a propósito da crise na Venezuela afirma que "já vimos este filme em algum lado. Sim, é verdade, em 2002. O mesmo exacto guião de tentativa de golpe de Estado planificada entre a direita mais reaccionárias, os grupos fascistas e as representações diplomáticas do EUA, sim, com os gordos financiamentos dos EUA. (...) Desestabilização, assassinatos indiscriminados – não é por acaso que elementos da oposição e a favor do governo foram assassinados pelas mesmas armas – grupos para-militares, terroristas, destruição e incêndio de infraestruturas… Não é necessário ter muita destreza intelectual para compreender que não é ao governo venezuelano que isto interessa". Já para não correlacionar a violência com a fome gerada pela falência total do sistema socialista venezuelano é preciso muito mais destreza intelectual, certamente. Aliás, destreza intelectual ao PCP é coisa que não falta: tanto quando assiste ao congresso do Partido Comunista da Federação Russa, tanto como quando se associa em Pyongyang às celebrações daquela "democracia popular" que por lá já matou milhões.

É, precisamente, de tanta destreza intelectual que se fez a história - que o PCP não renega - de morte e miséria do comunismo e socialismo populares no Século XX. A mesma história repete-se agora na Venezuela tal como, aliás, em todos os países onde - com mais ou menos músculo - se tentou implementar a quimera da igualdade socialista, sempre se repetiu. Dessa igualdade prometida sobra agora, com o crepúsculo de mais um sistema socialista, a miséria do povo venezuelano bem como a riqueza obscena da oligarquia socialista que o governa. Nada de novo, muito pelo contrário.

Já aqui em Portugal, pelos vinte e oito mortos não há gritos de indignação, não há manifestações de pesar nem há remorsos pelos apoios passados. Não. Em Portugal, na terra onde nunca alguém é responsabilizado pelo que diz ou faz, apenas se escuta o comprometedor silêncio daqueles portugueses irresponsáveis que, mesmo contra todas as evidências, continuam a vender sonhos (que se transformam sempre em pesadelos) enquanto falam de boca e carteira cheia por esses televisões fora sem que ninguém lhes faça frente. Mário Soares é apenas um deles.

quinta-feira, março 06, 2014

Ainda o Congresso

A propósito da realidade política nacional, o meu estado de espírito é de uma certa sensação de estar entre a espada e a parede. As razões são simples: por um lado, o da espada, continuo a sentir uma enorme frustração para com o nosso Governo que, apesar dos bons indicadores que aqui e ali vão aparecendo, parece-me que não se atina a fazer as reformas de fundo que de facto nos abrissem as portas para uma futura prosperidade; por outro lado, o da parede, as alternativas políticas - e partidárias - à actual maioria que nos governa são tão más, tão desvairadas e, pior ainda, capazes de gerar resultados políticos e sociais tão maus, que o que me resta é aceitar que assim é a vida, este é o Governo que temos e não se vislumbram possibilidades de termos no curto prazo um muito melhor do que este. Foi neste sobressalto psicológico que assisti ao último congresso do PSD. Entrei, portanto, desconfiado. E, para mal dos meus pecados, consegui sair ainda mais desiludido.

Primeiro, com a intervenção do Presidente do partido. Alguém ainda me há-de explicar por que razão passou Passos Coelho uma boa parte do seu discurso de abertura a discorrer sobre o pivotal papel que o PSD desempenhou nas fundamentais revisões constitucionais para, à medida que elencava as diferentes reformas constitucionais que o PSD ano após ano forçou e, fruto do registo histórico,  quando já empolgava aqueles que, como eu, vêem como evidente que o caminho da prosperidade assenta numa fundamental - e inevitável - revisão constitucional, terminar o seu discurso atabalhoando-se num lamúrio, em jeito de piada, do género "o PS que não se preocupe que eu não venho pedir uma revisão constitucional". Ora, primeiro se não pediu, deveria ter pedido: sem ela não se vai a lado algum, e até era uma bandeira eleitoral do PSD de 2011. Depois, se não era para pedir a dita revisão então para quê aquele discurso todo? Sobra o mistério.

 A segunda desilusão nem preciso abundar muito nela: só mesmo alguém profundamente obstinado na sua própria teimosia poderia pensar que candidatar o Sr. Relvas ao Conselho Nacional seria uma boa ideia. Palavras para quê? A safar um pouco, ficou o resultado tenebroso da lista de Miguel Relvas e ainda ter dado para ver Marcelo Rebelo de Sousa, o entertainer, bem como Santana Lopes, o humanista benemérito, a mostrarem que os ex-líderes podem ser um bocadinho mais do que aquele fastidioso show de egotismo amargurado de Luís Filipe Menezes para quem, de facto, já não resta muita paciência para aturar.

No final, ficou um congresso com um ou outro momento engraçado, a noção de que o PSD não está morto mas, ao mesmo tempo, a sensação de que o PSD verdadeiramente reformista e capaz de rasgar com o status quo ainda não é desta que vai aparecer. Azar da vida, é o que há, e o que há ainda consegue ser bem melhor do que as inconcebíveis tonterias do Tozé Seguro, ou o revolucionário ressentimento da sempre ressabiada extrema-esquerda indígena.

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Taxi Driver

E Marcelo desceu ao Coliseu. Para além de desembarretar a carapuça do "catavento de opiniões erráticas", o "desvio" do Táxi do Professor para o Congresso do PSD acabou por o confirmar com possível, se não provável, candidato presidencial em 2016. A fazer lembrar a rodagem do Citroen de Cavaco, Marcelo conseguiu levantar o Coliseu, dar uma no cravo, outra na ferradura e ao mesmo tempo marcar a bandeirada para a corrida a Belém. Que o digam Santana ou Durão ou um candidato tipo Nobre que ainda esteja num bolso esconso de Passos. Marcelo foi lá dizer que "cá dentro ou lá fora" ainda tem mãos para um verde e preto e que, bandeiradas à parte, o taxímetro está a contar... Mas é claro que nem só de Marcelo viveu o Congresso. Ao jeito dos antigos Congressos - antes de serem esvaziados pelas directas - a 35ª reunião magna social-democrata foi rica no clique-e-claque típico do PSD, serviu para malhar em Seguro e piscar o olho a Costa, marcar o ritmo e o discurso para o pós-Troika e lançar as Europeias. Um Congresso que foi o oposto do vazio que anunciava. Foi o Congresso do Partido que os portugueses democraticamente escolheram para liderar o país que a esquerda levou ao limiar da bancarrota.